"Tive sempre uma repugnância quase física pelas coisas secretas —
intrigas, diplomacia, sociedades secretas, ocultismo. Sobretudo me incomodaram
sempre estas duas últimas coisas — a pretensão, que têm certos homens, de que, por entendimentos
com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem — lá entre eles, exclusos todos nós
outros — os grandes segredos que são os cavoucos do mundo".
"Não posso crer que isso seja assim. Posso crer que alguém o julgue
assim. Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida? Por serem vários?
mas há alucinações coletivas".
"O que sobretudo me impressiona, nesses mestres e sabedores do
invisível é que, quando escrevem para nos contar ou sugerir os seus mistérios,
escrevem todos mal. Ofende-me o entendimento que um homem seja capaz de dominar o Diabo e não seja
capaz de dominar a língua portuguesa".
Fernando
Pessoa, Livro do desassossego de Bernardo Soares.
Foto: Villach.